- O mesmo defeito após o arranjo ativa a garantia da reparação (mín. 1 ano em Espanha), sem custos.
 - A garantia legal do produto é de 3 anos em Espanha e congela enquanto o telefone está no SAT.
 - Proteja a privacidade: cópias, reposição de fábrica ou Modo de Reparação; desative bloqueios remotos.
 
Quando um telemóvel dá o berro, vai ao arranjo e volta a falhar, a frustração é real. A dúvida que surge de imediato é: tenho de pagar outra vez? Em contexto espanhol, a resposta para o mesmo defeito é não, porque há garantias específicas que o protegem. A lei distingue a garantia legal do produto e a garantia da reparação, e entender esta diferença evita perder tempo e dinheiro.
Além disso, há pormenores que jogam a seu favor: o prazo da garantia congela enquanto o telefone está no serviço técnico e algumas intervenções têm cobertura própria por um mínimo de um ano. Ao longo deste guia prático, reunimos tudo o que precisa de saber — direitos, privacidade ao enviar o dispositivo, onde reparar (SAT oficial, lojas de bairro e operadoras), preços típicos no mercado espanhol e como reclamar se algo correr mal.
Direitos do consumidor quando o telemóvel volta a falhar
O primeiro ponto é simples: se o mesmo problema regressar, não tem de pagar uma segunda vez. Em Espanha, as reparações contam com uma garantia própria que abrange as peças substituídas e a mão de obra. Por norma, o prazo mínimo é de 1 ano, e esta cobertura é independente da garantia do produto.
Já a garantia legal do dispositivo também tem peso. Desde 1 de janeiro de 2022, a garantia legal para produtos tecnológicos em Espanha é de 3 anos. Esse período não corre enquanto o telemóvel está no taller: fica suspenso e retoma quando o equipamento regressa. Exemplo: se o telefone passa 10 dias em reparação, esses 10 dias somam ao fim da garantia.
Importa distinguir origem e natureza do defeito. A garantia do produto cobre vícios de fabrico e avarias de origem, mas não danos por quedas, humidade ou uso indevido. Se surgir um problema novo não relacionado com o que foi reparado e ainda estiver dentro dos 3 anos, acione a garantia legal do telemóvel junto do vendedor ou fabricante.
Na prática, isto significa: se trocaram o ecrã e, passado um tempo, a câmara falha sem ligação à intervenção, use a garantia do produto; mas se a mesma anomalia do ecrã reaparece, é a garantia da reparação que deve responder sem custos.
Garantia do produto vs. garantia da reparação
A garantia do produto é a “clássica”: cobre defeitos de fabrico e, durante os primeiros 6 meses, presume-se que o defeito já existia, salvo prova em contrário. A partir daí, pode ser exigido diagnóstico técnico para apurar a origem. Com a extensão legal para 3 anos, a posição do comprador ficou mais forte.
A garantia da reparação é outra conversa: protege exatamente o que foi intervencionado (peças e mão de obra) e obriga o serviço técnico a devolver o terminal em condições quando o mesmo defeito reaparece. Não depende de a garantia do telemóvel estar ativa — é uma cobertura própria e autónoma, com mínimo legal de um ano em Espanha.
Dois detalhes que muita gente ignora: os prazos de garantia suspendem-se quando o telemóvel está no SAT e, por outro lado, consumíveis como baterias não são cobertos por desgaste normal (a não ser que haja defeito). Além disso, o uso de peças não originais pode afetar certas coberturas que alguns fabricantes restringem quando detetam componentes não oficiais.
O que fazer quando o problema reaparece
Voltando a dar o mesmo erro? Volte ao mesmo serviço técnico e ative a garantia da reparação. Não aceite a abertura de uma nova ordem paga para o mesmo defeito sem antes acionarem essa cobertura. Estão obrigados por lei a corrigir o problema sem custos.
Se o que surge é uma incidência diferente, acione a garantia legal do produto junto do vendedor ou fabricante (desde que ainda esteja no prazo). Tenha presente que a cobertura recai sobre defeitos de origem e não sobre danos acidentais ou mau uso. Se a garantia legal expirou, peça orçamento e avalie se compensa reparar.
Para reduzir idas e vindas, leve a documentação completa: fatura ou comprovativo de compra, relatório da reparação anterior e registos do novo defeito (fotos/vídeos). Isto é ouro quando surgem diagnósticos imprecisos ou propostas de orçamento desalinhadas.
Negligência em serviço técnico: um caso real e lições
Há precedentes que mostram porque deve exigir boas práticas. Um tribunal contencioso em Palma confirmou uma coima de 4.000 € a uma grande superfície por deficiências no serviço técnico. Depois de trocarem o vidro do ecrã duas vezes, o problema persistia; noutro taller encontraram um parafuso extra colado ao íman do altifalante, que originava a avaria. A sanção por negligência foi validada em juízo.
Esta história deixa claro: diagnóstico errado e reparação deficiente geram responsabilidade. Se lhe devolverem o telemóvel pior do que entrou, reclame a correção gratuita, uma reparação adequada ou mesmo compensação se houver danos adicionais relevantes.
Privacidade antes do SAT: cópias, reposição de fábrica e detalhes a não esquecer
Antes de entregar o telefone, trate dos seus dados. Faça cópia de segurança de fotos, vídeos e documentos usando serviços como Google Fotos e Google Drive. Guardar na nuvem ajuda a manter tudo acessível a partir de outros dispositivos e evita perdas quando o equipamento é formatado pelo serviço técnico.
Quando possível, restabeleça o telemóvel para os valores de fábrica antes de o enviar. No Android, vá a Definições > Sistema > Opções de recuperação e selecione “Voltar ao estado de fábrica”. No iPhone, Definições > Geral > Transferir ou Repor iPhone e escolha apagar conteúdos e definições. É por isso que a cópia de segurança é vital.
E se o ecrã não responde? No Android, faça um hard reset pelo modo de recuperação: desligue, ligue com Power + Volume –, navegue com as teclas e aplique “Wipe data/cache”. No iPhone, use o Finder (macOS Catalina ou superior) ou o iTunes no Windows/macOS mais antigo e clique em “Restaurar iPhone”.
Para utilizadores avançados, vale recuperar setups prévios. Se tinha root, apps como Titanium Backup ou Migrate podem ajudar, desde que já estivessem configuradas. E um lembrete essencial: desative “Buscar iPhone”, Lost Mode e Samsung Protect, porque bloqueios remotos impedem a intervenção e o SAT pode recusar o serviço.
Ao aceder a recursos online de suporte, use um navegador compatível e com JavaScript ativo. Não é raro ver a mensagem “JavaScript está desativado” em portais que requerem scripts, e isso trava formulários e rastreios de reparação.
Preciso de dar a senha? E se tenho fotos privadas num cofre?
Em regra, sem o seu código/PIN, o técnico não consegue aceder a dados cifrados do telefone. No entanto, para testar funções (câmara, chamadas, apps), podem pedir um código temporário ou que desbloqueie no momento. Se não quer partilhar a senha, use o Modo de Reparação do Android (quando disponível): cria um perfil seguro que protege os dados sem os apagar.
Quanto a aplicações de cofre de fotos, continuam cifradas sem o seu desbloqueio. O que pode acontecer é, se entregar o telefone desbloqueado para testes, qualquer pessoa ver o que estiver no ecrã. Dicas práticas: saia das contas, oculte notificações na tela de bloqueio e evite disponibilizar passwords definitivas; se for preciso, crie um código temporário e altere-o quando o telefone regressar.
SAT oficial, loja de bairro ou operadora?
A via mais conservadora é o serviço técnico oficial do fabricante. Técnicos formados na marca e uso de peças originais jogam a favor da fiabilidade, mas o preço tende a ser mais alto. Para terminais caros e recentes, esta costuma ser a escolha mais prudente.
As lojas não oficiais são alternativa comum e, muitas vezes, mais em conta. A qualidade depende do estabelecimento e do tipo de peça: original, OEM ou compatível. Transparência no orçamento e garantia da reparação são chave para decidir.
As operadoras entraram em força no suporte: Movistar, Orange e Vodafone oferecem recolha, diagnóstico, orçamento e, em certos casos, telemóvel de substituição. Convém saber as diferenças de prazos, custos administrativos e políticas de empréstimo.
O que oferecem Movistar, Orange e Vodafone
A Movistar tem Pontos de Reparación Exprés em lojas selecionadas e recolha com a Zeleris em 48 horas. Os envios ida/volta costumam ser gratuitos; se rejeitar o orçamento, paga cerca de 6 € para recuperar o equipamento. Empréstimos existem de forma pontual e dependem de disponibilidade.
A Orange integra o serviço Tranquilidad Orange em alguns tarifários Go e Love, com terminal de substituição “similar” enquanto o seu é reparado e recolha em 24–48 h. Sem esse serviço incluído, o empréstimo custa cerca de 20 € em loja ou 25 € por mensageria.
A Vodafone destaca volumes e rapidez: cerca de 100.000 avarias solucionadas no último ano. Tem empréstimo equivalente em gama e características sem custo e objetivo de 5 dias úteis (7 nas Canárias) desde a recolha. Pode tratar em loja ou pelo 916 588 980 para gestão ao domicílio. Se não aceitar o orçamento, a taxa é de 14,16 € (IVA incl.).
Em todas as operadoras, há um requisito comum: entregar o telefone sem padrões de bloqueio nem bloqueios remotos ativos (Buscar iPhone, Lost Mode, Samsung Protect). Caso contrário, o processo fica parado.
O papel das grandes cadeias: o caso Phone House
Em Espanha, a Phone House conta com mais de 80 Centros de Reparación Express, realizando no ato trocas de ecrã e intervenções de software em ~20 minutos quando possível. Oferecem recolha ao domicílio e acompanhamento online do estado da reparação.
Dispõem de mais de 200 profissionais acreditados por fabricantes e trabalham marcas como Samsung, Apple, Sony, Huawei, Honor, Xiaomi, LG, ZTE e OPPO. Fazem reparações em e fora de garantia, permitindo escolher entre peças originais e compatíveis (com políticas de melhor preço).
Quanto à cobertura, muitos serviços praticam 6 meses de garantia de reparação. A Phone House especifica que a instalação de componentes tem 3 meses segundo o RD 58/88 e que amplia para 1 ano as reparações fora de garantia feitas pelo seu serviço técnico com componentes próprios. Verifique sempre as condições no seu documento.
Também existe telemóvel de empréstimo: com seguro da cadeia, pede-se caução de 20 € (devolvida no fim); sem seguro, o serviço custa 10 € e pedem 50 € de caução (devolvem 40 € no final), sujeito a disponibilidade em loja.
Antes de ir, prepare o básico: fatura de compra (se for garantia), cópia de segurança e, em iPhone, desative “Buscar iPhone”. Se não quiser reparar ou o equipamento não tiver conserto, podem avaliar a recompra do telemóvel avariado.
Reparações em Espanha: um mercado em alta
Com os smartphones a subir de preço ano após ano, o mercado de reparações cresceu significativamente. A Phone House reportou cerca de 300.000 reparações em 2014. Operadoras também escalaram: 15.000 na Orange, 20.000 na Yoigo e 70.000–80.000 na Vodafone, com parte feita in situ e 65% em menos de uma hora em pontos dedicados (caso Vodafone).
Profissionais do setor confirmam que muito mais gente repara do que antes, em parte pela conjuntura económica e fim dos “mimos” das operadoras. Chegam mais terminais previamente manipulados, por outros talleres ou pelos próprios utilizadores, impulsionados por tutoriais e canais como How2Tech ou iFixit.
Quanto custa reparar? Faixas de preços para orientar
Os valores variam conforme marca, modelo, tipo de peça (original vs compatível) e complexidade. A troca de ecrã é a campeã, seguindo-se conector de carga, baterias, altifalantes e danos por humidade. As comparativas entre serviços como Phone House, BeMovil e AlertaPhone ajudam a traçar limites.
Em termos de ordem de grandeza: tratamento por humidade desde ~58 €; ecrãs entre ~79 € e ~169 € em gamas médias (com picos consoante o modelo); conector USB-C na ordem de ~34,90 € a ~49 €; altifalantes entre ~37 € e ~80 €; módulos de câmara ~39,90 € a ~85 €; e baterias a rondar ~19 € a ~75 €.
Exemplos práticos observados: ~90 €, ~129 € ou ~132 € por ecrãs (conjunto vidro+LCD) em modelos distintos; ~109,90 € ou ~159,90 € na BeMovil conforme o terminal; e ~169 € na AlertaPhone em painéis mais caros. Conectores de carga a ~39 € (Phone House), ~34,90 € (BeMovil) e ~49 € (AlertaPhone). Em gamas antigas como Samsung Galaxy S4 ou Sony Xperia M2, os preços tendem a ser mais contidos do que em topos de gama recentes.
Não se esqueça da letra pequena: os preços costumam incluir IVA e mão de obra, e as lojas reciclam o componente usado. Se o diagnóstico revelar uma avaria adicional não prevista, devem informá-lo e pedir o seu aval antes de prosseguir.
Porque variam tanto os preços
A primeira variável é a peça. Um componente original vem do fabricante e mantém padrões de qualidade (brilho, resolução, som). Peças compatíveis podem ser mais baratas e próximas do original, mas por vezes não oferecem o mesmo resultado (ecrãs com menos brilho, altifalantes mais fracos).
A segunda variável é a mão de obra. Quanto mais complexo é abrir e reparar um modelo, maior o tempo e o risco — algo que se reflete no orçamento. Microssoldaduras, selagens complexas e serviços “premium” (envio ao domicílio, diagnóstico expresso, garantias ampliadas) também influenciam o preço final.
DIY e tutoriais: tentador, mas com riscos
Fazer por conta própria poupa mão de obra, sim, mas exige ferramentas, destreza e paciência. Um passo em falso pode agravar a avaria ou anular garantias futuras. Se avançar, estude guias confiáveis (como iFixit), avalie o custo da peça e compare com o orçamento de um taller que ofereça garantia de reparação.
Checklist rápido antes de enviar
Uma preparação simples evita chatices e acelera o processo. Use esta lista como guia e confirme cada ponto antes de entregar o telemóvel:
- Fatura ou comprovativo de compra (necessário para garantia legal do produto).
 - Cópia de segurança completa (fotos, vídeos, documentos e apps como WhatsApp).
 - Terminar sessão nas contas, retirar SIM e microSD se aplicável.
 - Desativar bloqueios remotos (Buscar iPhone, Lost Mode, Samsung Protect) e remover PIN/biometria se solicitado.
 - Anotar o IMEI e guardar o relatório de intervenção anterior.
 - Em operadoras/grandes cadeias, confirmar prazo estimado e telemóvel de substituição.
 
Quando o serviço piora o estado: como reagir e reclamar
Se a experiência for má, não desista. Documente tudo: fotos, vídeos, faturas e o relatório da reparação. Se o taller admitir que usou peça não original ou descreveu mal a intervenção, peça por escrito a correção gratuita ou a reposição dos danos causados.
Se não responderem, solicite a “hoja de reclamaciones” oficial e apresente-a à autoridade de consumo da sua comunidade autónoma. Um relatório pericial independente pode reforçar a prova de má prática (como no caso do parafuso em Palma). Em situações graves, avalie reclamar danos e prejuízos pela perda do equipamento ou do seu valor.
Ao rejeitar um orçamento após diagnóstico, conte com custos administrativos pré-definidos: ~6 € na Movistar e ~14,16 € na Vodafone, por exemplo. São importes conhecidos e servem para cobrir a gestão.
IMEI e seguros: o que precisa de saber
O IMEI é um código único de 15 dígitos que identifica o seu telemóvel. Serve para verificar originalidade, detetar se foi roubado/extraviado e identificar o dispositivo para suporte. Em iPhone (e na generalidade dos smartphones), o IMEI não pode ser alterado.
Se tem seguro de terceiros, informe a seguradora antes de qualquer intervenção. Há apólices que excluem danos se a reparação não for comunicada ou for feita fora da rede autorizada (casos reportados com seguradoras como Zurich Klinc). Para evitar dissabores, confirme condições e reporte sempre o sinistro antes de reparar.
Com a informação certa, fica muito mais fácil defender os seus direitos, escolher onde reparar e proteger a sua privacidade. Entre a garantia legal de 3 anos (em Espanha), a garantia própria das reparações, as opções de operadoras e cadeias, e preços que oscilam consoante peças e mão de obra, há margem para decidir bem — e, se algo correr mal, existem caminhos eficazes para que não pague duas vezes pelo mesmo e para exigir um trabalho à altura.